U-Map in Diário Económico

U – Map

 

Mesmo que por vezes fique a ideia de que a espiral de notícias negativas que está a assolar o nosso país não tem fim, a verdade é bem diferente e este é um bom momento para o recordar.

Na semana passada participei num raro evento que juntou no mesmo auditório os representantes das universidades e politécnicos privados juntamente com os seus congéneres das instituições estatais. Um encontro deste tipo não acontecia há vários anos e deveu-se à realização de um seminário técnico, organizado pela Associação Portuguesa do Ensino Superior Privado (APESP), em cooperação com o Conselho de Reitores (CRUP) e o Conselho dos Institutos Politécnicos (CCISP), para apresentação e discussão técnica do U-Map.

O U-Map é um projecto da Comissão Europeia, no âmbito do Programa Aprendizagem ao Longo da Vida, que está a ser estudado e desenvolvido pelo Center for Higher Education Policy Studies (CHEPS), da Universidade de Twente (Holanda), e tem por objectivo classificar as mais de 3000 instituições de ensino superior existentes na Europa. Inspirado na Classificação Carnegie, cujo primeiro estudo foi publicado em 1973, que retrata e descreve com fiabilidade a diversidade institucional do ensino superior nos EUA, também o U-Map, do modo como foi concebido, reforça a ideia de que a diversidade é uma força potencial do Espaço Europeu de Ensino Superior e do Espaço Europeu de Investigação.

É sabido que esta diversidade permite uma melhor distribuição e mobilidade social no acesso e frequência do ensino superior (em virtude da ampla variedade de perfis de estudantes existente), do mesmo modo que proporciona a combinação fundamental entre instituições de elite e de massas e, ainda, atende às diferentes necessidades do mercado de trabalho. Só que esta diversidade apenas ganha valor se tiver respaldo em sistemas de verificação de qualidade e existindo transparência, tanto ao nível dos resultados como na apresentação adequada das instituições.

Num tempo em que os debates internacionais se centram nas universidades de classe mundial, na concorrência no ensino superior e na crescente popularidade dos rankings surge, agora pelo U-Map, uma classificação multi-dimensional europeia, não hierárquica, tendo por base dados objectivos, fiáveis e verificáveis, onde se agrupam instituições comparáveis e na qual a maioria das instituições de ensino superior portuguesas vão participar. Esta multi-dimensão institucional gravita em torno de seis grandes áreas: perfil de ensino e aprendizagem; perfil dos estudantes; investigação & desenvolvimento; troca de conhecimentos; orientação internacional e envolvimento regional, permitindo, assim, retratar cada estabelecimento e, do mesmo passo, ‘mapeá-lo’ junto dos seus congéneres europeus.

Tenho defendido a necessidade de as instituições cooperarem mais e melhor, nas diversas vertentes e mais-valias que agrupamentos desta natureza podem trazer, seja ao nível do ensino, da investigação ou na defesa da língua e cultura nacionais, não só na perspectiva da comparabilidade europeia como, especialmente, para dar um novo alento às relações com os países de língua oficial portuguesa. É, por isso, tempo de também as entidades representativas das instituições de ensino superior darem início a uma nova fase de cooperação estratégica de modo a potenciar, nesta aldeia global, a qualidade da diversidade institucional existente em Portugal. Os investigadores da Universidade de Twente sabiam-no, pelo que concederam condições muito vantajosas a Portugal para a adesão ao U-Map.

 

Miguel Copetto

In Diário Económico de 14.04.2011

Alternative text can go here.